Aqui me sento feito poeira irrequieta
e amarga que não me cabe no peito
a pensar que as horas caladas são um navio
de raiva e de lume e que o frio
range na janela como a cal dos rios;
aqui me deito eu de coração inclinado
sobre o bafejar das sílabas dormentes
a redescobrir o silêncio, convencido
de que o tempo é tão pesado
quanto a mão que o carrega,
abismo passageiro do corpo-ânsia.
Aqui me sento incansável
sobre a sombra da minha sombra
a ver o mar deslizar lento
(sempre lento) nos meus ombros
como um formigueiro debaixo
da língua indecisa,
teimoso em fingir que tenho
a morte a morder a lua
na minha mão febril e que já não sei
se é silêncio ou labareda
este som que arrepia
a distância e sacode o pó
das minhas pálpebras
quando finjo dormir.
19/2/8
João Paulo Coelho
21 março 2008
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