"Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi."

Fernando Pessoa

MADRUGADAS

09 junho 2010

BRUMA

Gosto de te observar enquanto
Danças ao som daquela
Melodia inebriante
Que só tu percebes;

De te olhar enquanto
Me falas em tons de veludo
Que me fazem perceber a música,
Apanágio só teu;

De te amar enquanto
Me explicas como o amar
Não é senão um verbo
E aquilo que nos distingue
O doce flutuar do teu cabelo
Nas ondas do vento.

Moves-te como se a natureza
Fosse uma extensão do teu corpo
Percorrendo áleas e encostas
De vidro pintadas.

Admiro-te.

A ti e à forma como te desnudas da tua indumentária
De viandante e te disfarças de lascívia
Como se um regato nascesse do teu olhar
Por um qualquer capricho transcendente.

Só te quero ver assim,
Livre de prantos,
Deidade cintilante
No altar de todas as manhãs.

João Coelho

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