hoje
o sol
inventou
o desabrochar
os campos
inventaram
as flores
as flores
inventaram
a terra
a terra
nasceu
do sangue
alguém
inventou
a chuva
de braços
sempre abertos
alguém
inventou
o mar
para
nos engolir
por inteiro
alguém
inventou
a sede
a saudade
alguém
em lágrimas
inventou
a saudade
e deu-a de comer
ao mundo
e eu
continuo assim
sem voo equivalente
as mãos
sempre
tão sujas
de palavras,
os dias
continuam assim,
vagabundos
e as chaves
continuam na mesa
sem uma porta
que lhes sirva
e tu sentas-te
e esperas
que o mundo
te sopre ao ouvido
com o sangue assim,
em ruínas, à espera
de um nome
que não o teu,
um nome que te sirva,
um corpo
que não o teu,
uma sombra
que não se extinga.
continuas assim,
e dás-me a tua morte
a beber,
abres-me as mãos
e dás-me a beber
da tua infância
como quem apodrece
e eu só pedia
que as minhas mãos
não fossem centopeias
nas tuas,
um nevoeiro
de aves
para não continuar assim,
sem voo equivalente.
JOÃO COELHO
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