Pequenas aves de luz
saltam de lâmpada em lâmpada
a incendiar as ruas
lentamente.
Chovem cassiopeias
nas mãos abertas:
é noite, o frio aperta
e enrola-se nos ossos
a trazer-me todos os desertos
à boca.
A vertigem das palavras
na ponta dos dedos
a pouco e pouco: é noite:
basta um nome num mar de corpos
para dar uma voz mais quente
aos nossos gestos.
Alguém me escreveu algures:
com as mãos, com o lume aceso
dos silêncios, com o mel do verão:
todos os poemas, dizes-me,
são fracções de outros poemas;
mas onde desaguam as mãos,
afinal, no entardecer do sangue?
A dor repete-se,
a voz repete o peso do pó
sobre os lábios e as casas calam-se
num silêncio absurdamente silêncio:
hoje, morreu tudo na minha boca.
João Coelho
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